terça-feira, 9 de agosto de 2011

Zanini de Zanine: Herança de pai até no nome

Diz o velho ditado que o fruto nunca cai muito longe do pé. Zanini de Zanine é um exemplo de que herança genética é mais do que olhos azuis, cabelos crespos ou fator RH. Ele é a prova viva de que talento pode ser herdado de pai para filho sim. Porém, se não existir competência para exercer esse talento, de nada adianta.


Zanini é formado em desenho industrial e é filho do mestre Zanine Caldas. Em seus produtos traz a marca registrada do uso da madeira, que tanto influenciou a história de seu pai e também do renomado Sérgio Rodrigues, dois de seus mestres.  

Carioca, 32 anos, é a promessa do design nacional para os próximos anos. Badalado pela imprensa especializada por suas idéias inovadoras no mundo do design e por estar seguindo os passos do pai ilustre, ele não perdeu a humildade e o jeito de menino- moleque.

Em seu ateliê, em São Conrado, no Rio de Janeiro, que mais parece um depósito ou uma garagem, ele cria e elabora seus protótipos. No meio da bagunça, como ele mesmo denomina seu espaço, estão poltronas, bancos, mesas e uma infinidade de peças e projetos que ainda estão em fase de teste.

Simpático, independente e cheio de autonomia para fazer o que faz, ele se arriscou no mundo do design, um mundinho fechado baseado em tendências e modas ditadas. Entrou neste círculo com maturidade e com a proposta de inovar e não seguir a correnteza. “Eu sempre falo que o cliente sou eu mesmo, eu não procuro saber o que está sendo mais usado, ou que tipo de linha o mercado está seguindo. É um trabalho muito intuitivo, sem apego a tendência. Um trabalho autoral é o que a gente tenta fazer aqui” explica Zanini.

Versátil e mesmo apaixonado pela madeira, ele não se prende a materiais. Usa concreto, tecido, demolição, material reciclável, resina acrílica e até restos de chapas que a casa da moeda usa para fazer as moedinhas de 10 centavos. E ele quer mais. “Existe uma grande variedade de materiais que eu gostaria de usar e nunca usei.”
Totalmente influenciado pelo pai, ele não faz questão alguma de se desvencilhar da herança intelectual que lhe foi deixada e fala com orgulho e emoção do grande mestre da sua vida. “Não tenho como não falar do meu pai. O meu início foi completamente por conta dele. Eu só percebi que queria trabalhar com isso bem tarde, mas com o tempo fui descobrindo o que queria. Morei minha vida inteira com meu pai, até os meus 20 anos e isso foi determinante na escolha da minha carreira. Ele me levava junto nas viagens por conta dos trabalhos e mesmo criança eu absorvia isso tudo visualmente. Além do mais, eu via ele desenhando, ia para as fábricas junto com ele, para a oficina, etc. Ele era um pai solteiro e levava o filho para tudo quanto é lugar, não tinha babá”, relembra.

Com sorriso no rosto ele vai em frente com as lembranças de infância e recorda dos tempos de menino, quando brincava de designer. “Eu me lembro que iamos para Brasília e ele tinha um estúdio de maquete e eu ficava lá brincando, montando carrinhos, joguinhos de moedas. O tempo passava e eu não me entediava. Hoje vejo que no fundo isso me influenciou muito, por exemplo, quando chega a hora de mexer com a madeira aqui no ateliê, o cheiro e o contato com a madeira dá uma certa nostalgia e isso remete imediatamente a minha infância. Às vezes quando corto uma madeira antiga, de uma peça de demolição, pelo cheiro lembro imediatamente do meu pai. E viajo para algum momento no ateliê dele, onde ele fazia os móveis artesanais. Não tem como eu não falar do meu pai. O fato de eu ter entrado nesta área foi completamente por influência dele.”

Nos dias de hoje, Zanini de Zanine, não é mais aquele garoto que observava admirado o trabalho do pai. Agora, adulto e buscando a maturidade profissional, montou o estúdio Doiz de design, onde, com o sócio Gabriel Gaspar, busca produzir móveis que não sejam somente esteticamente agradáveis ao olhos. “A idéia é elaborar móveis que sintetizem emoções, sentimentos e história de vida.”

Questionado sobre a visão dele sobre si mesmo, o designer não perde a humildade e fala de si com simplicidade. “Sem falsa modéstia, para falar a verdade até hoje eu não me considero um desenhista de móveis. O meu processo criativo é uma grande diversão, uma brincadeira e dentro dessa diversão tem essa profissão que é desenhista de móveis. Acho que agora consegui montar uma estrutura, uma marca e de fato estou levando isso mais a sério. Diferente da época de faculdade em que era tudo muito experimental, se bem que hoje em dia ainda é experimental (risos). Não vejo como profissão, eu tenho prazer em vir pra cá todo dia. Acho que agora eu estou entendendo mesmo o que eu realmente sou e que tenho que me tornar: desenhista de móveis,” finaliza, convicto.

* Matéria publicada na revista HALL edição 24. Entrevista realizada em outubro de 2010, no Rio de Janeiro, pela jornalista Caroline Scharlau.